A maternidade
O tema de hoje do blog será um assunto muito recorrente no consultório psicológico, a maternidade. Relutei, até certo ponto, de escrever sobre o assunto, pois vejo como uma proposta um tanto ousada, eu, um homem, escrever sobre o assunto. No entanto, desde que atuo na clínica, me deparo com o dilema feminino sobre a questão. Todas as mães, mais cedo ou mais tarde tocam nesse assunto durante a terapia.
A maternidade parece realmente estar ligada a ideia de feminilidade, muita dessa ligação é estabelecida através de nossa cultura. Desde muito cedo as meninas são educadas sobre a maternidade e crescem achando que ser mãe é sinônimo de ser mulher. Entretanto, ver essa problemática apenas como cultural, é ser demasiadamente simplista, e se contentar com uma resposta um tanto vaga: “achar que tudo é a cultura e pronto”.
A relação da mãe com seus filhos é muito profunda, pois o início de tudo é o desenvolvimento de um ser no interior dessa mulher, é comum grávidas se sentirem completas nesse momento da vida delas. Durante a gravidez, as coisas vão bem – apesar das reações fisiológicas como, enjoos, transformações físicas e etc. No entanto, no parto surge um primeiro rompimento, nesse momento há a separação física da mãe e do bebê para sempre, nunca mais ele estará dentro dela. Tal ponto parece óbvio, mas é extremamente difícil de ambas as partes “aceitarem”.
Com o passar do tempo, outros rompimentos vão acontecendo, o bebê aprende a andar, e a mãe deixa de ser necessária para locomoção, aprende a falar, logo ela deixa de ser necessária para a comunicação e uma série de outros aspectos dos quais o bebê/criança vai aprendendo e mãe deixa de ser imprescindível. Isso parece ser simples de escrever ou de ler, mas para as mães não é fácil de vivenciar, muitas encaram a situação como uma perda, aquele ser, gerado em seu interior que em um momento a completou, ganhar vida e se constituir como um sujeito independente pode ser realmente difícil de vivenciar, pois mexe com questões narcísicas das duas partes envolvidas. A mãe, que deixa de ser necessária e do filho que para se constituir como sujeito precisa em algum momento desagradar a mãe –esse assunto provavelmente será tema de um outro post.
Assim, uma fala muito dita entre os pais e mães é: “tem que criar o filho para o mundo”, sim, os filhos serão do mundo, mas será que isso é tão fácil assim? Será que as mães estão realmente preparadas para criarem os filhos para o mundo? Uma vez escutei uma fala de um senhor que vem muito a calhar. Ele disse ter um amigo que “amava” passarinhos, tinha vários nas gaiolas. Esse amigo dizia: “acordo cedo, dou alpiste, limpo a sujeira deles, deixo de fazer coisas para mim para fazer para eles”. O senhor me falou: “o meu amigo não ama os passarinhos, ele gosta do que os passarinhos propiciam a ele, se sentir útil, ter a sensação de que ele é indispensável, acordar com os bichinhos cantando e etc. Mas se ele amasse mesmo os passarinhos, abriria as portas da gaiola e deixaria que eles voassem”.
Ser mãe é realmente complexo e difícil, pois faz a mulher conviver com uma constante “frustração” de se fazer desnecessária constantemente. Mas apesar de toda dificuldade que isso causa, amar realmente os filhos é abrir a porta da gaiola.