“Ataque dos cães”: Uma ánalise psicológica.

        “Ataque dos Cães” é um filme lançado pela Netflix. Ele tem diversas nuances e temáticas que podem render diversas análises do ponto de vista psicológico, mas basicamente o filme expõe um lado bem problemático da masculinidade. O enredo se trata de dois irmãos que cuidam de uma fazenda de seus pais, um deles – Phil – representa o estereótipo do cowboy e rejeita qualquer aspecto feminino de sua personalidade, o outro é George, um homem que embora inserido nesse “contexto de cowboy” se mostra diferente do irmão, já que casa com uma mulher com filho, é um pouco desajeitado e se mostra mais intelectualizado que o irmão.

        O filme apresenta diversos pontos para análise, mas pretendo focar no personagem “principal”, Phill, e na relação que ele estabelece com as coisas ao seu redor, sobretudo com o enteado de seu irmão, Peter – um menino afeminado em um contexto de masculinidade tóxica. No início do filme, Phill é apresentado como o “cowboy machão”, que agride e zomba de todos as características que fogem desse estereótipo masculino. Ele também tem uma grande admiração por um cowboy falecido chamado Bronco Henry, o qual é retratado como uma espécie de herói. No entanto, conforme o filme vai acontecendo é possível perceber que Phil esconde muitos segredos e tem muitas características conflitantes com o que ele representa.

        A questão da masculinidade é muito bem trabalhada no filme, pois claramente Phil tem uma idealização e admiração sobre ela, ao falar sobre Bronco, seu herói/mentor. Phil só relata grandes feitos e aspectos positivos dessa figura, é como se o masculino fosse perfeito, inclusive em uma cena muito emblemática, mostra que Phil guarda o lenço de Bronco e expressa toda admiração e desejo – inclusive sexual – sobre essa figura. No entanto, se por um lado o masculino e seus atributos são seus ideais e desejos, tudo que não pertence a esse universo é rejeitado por Phil.

        A rejeição de Phil por tudo que não se enquadra na masculinidade e no seu ideal – simbolizado pela figura mítica de Bronco – é expressa na relação estabelecida inicialmente por ele com sua

cunhada, uma mãe solteira, e no filho dela, o Peter. No início do filme, Phil se mostra extremamente agressivo com o lado feminino do rapaz e com o fato de sua cunhada tocar piano. Esses pontos são muito interessantes, pois a feminilidade e o lado artístico não estão nos ideais masculinos de Phil, logo ele as agride. Entretanto, conforme a história vai se desenrolando, percebemos que Phil ataca o tocar piano e a sexualidade do rapaz não apenas por não estarem contidas em seu ideal masculino, mas pelo fato dele mesmo tê-las em certa medida, já que em algumas cenas ele se mostra um bom músico e oculta sua homossexualidade. Assim, ele ataca no outro as partes dele mesmo que o incomoda e que não estão contidas nos seus ideais masculinos.

        Outro ponto interessante acerca da masculinidade do filme é a relação Bronco x Phil x Peter. Como dito anteriormente, Bronco foi uma espécie de mestre e herói de Phil, o filme também sugere que os dois possam ter vivido uma relação afetiva/sexual, nos remetendo a uma noção grega de pederastia, quando o homem mais experiente transmite ensinamentos ao mais novo e mantém práticas sexuais com o mesmo, mas sem características femininas, ou seja, uma “relação entre homens”. Phil, por sua vez, à medida que ele vai se afeiçoando ao Peter, parece tentar reproduzir essa mesma relação com o rapaz. Ele o ensina a montar, a fazer corda com couro e outras atividades “masculinas” daquele contexto. Mas é importante perceber, que Phil tenta “retirar” o lado afeminado de Peter, inclusive isso é expresso em uma cena, corroborando ainda mais essa admiração e fascínio que o personagem tem por esse universo masculino.

        A masculinidade se constitui como algo soberano para Phil, pois ela é alvo de admiração e desejo, dessa forma, ele se identifica com esse universo e sua sexualidade está voltada para ele. É importante perceber que Phil guarda revistas sexuais de homens fisiculturistas, modelos de virilidade, mas tem dificuldade em aceitar o que não está contido nela, atacando e agredindo – inclusive em si mesmo – os aspectos tidos como feminino.