Fumaça, Miriam Alves… O que você foi esse ano?
Fumaça
Estou a toque de máquina
corro,louca, vôo, suo
a fumaça sou eu
Estou a toque de nada
vivo, ando
como a comida envenenada
e o comido sou eu
estou a toque de selva
os ferros torcidos, sacudidos
dentro de uma marmita
e a marmita sou eu
Nego, mas vivo dizendo
Sim
a tudo que me dói na cabeça
e o doido sou eu
Paro, mas estou sempre correndo
doem as pernas, os pés
e este corpo é o meu
Amanhã me encontra acordada
como a noite deixou
e o insone sou eu
Indago, mas não estou escutando
a pergunta anda solta
e ninguém explicou
que a resposta sou eu
Nesse final de ano sinto que todos estão muito mais cansados do que o normal de um final de ano. 2019 foi um ano pesado de um modo geral, todo mundo trabalhou muito e agora em dezembro, parece que não sobrou nenhuma energia para as festas de final de ano.
Foi quando li esse poema de Miriam Alves que identifiquei muito desse sentimento, o ano passou e o que eu fui? Estamos vivendo tão no automático que não estamos entrando em contato com quem somos de verdade. Parece que apenas as funções mais emergentes estão existindo, o lado mãe/pai, o lado profissional, o lado da rotina. E ser “só” isso é muito frustrante, será que viver é só isso?
“Nego, mas vivo dizendo
sim
a tudo que me dói na cabeça”
Quantos nãos você queria ter dito esse ano, e disse sim? Por que temos tanta dificuldade de negar aquilo que nos faz mal? Quantas tarefas você poderia ter terceirizado, quantas tardes livres você poderia ter descansado, quantas horas você investiu em atividades que lhe faziam mal….? Começo a pensar que saber dizer não é um ato de coragem. Muitas pessoas só dizem sim, porque sabem que dizendo não a única coisa que vai sobrar vai ser você. O que você vai fazer com você?
Não temos coragem de nos encarar e lidar com o que de fato queremos, por isso vivemos em função de pessoas e tarefas que não nos fazem bem, mas nos ocupa do maior desafio que é se conhecer. Entrar em contato consigo mesmo e se colocar em primeiro lugar.
“Indago, mas não estou escutando
a pergunta anda solta
e ninguém explicou
que a resposta sou eu”
Que em 2020 você possa achar essa resposta em si mesmo, que você aprenda a dizer não para o que te faz mal, que você não viva “a toque de máquina”, que você respeite a hora de parar, que você aceite os seus limites. Bom final de ano!