O que podemos aprender com a tragédia e a comédia
O texto de hoje falará sobre as modalidades do teatro grego, a tragédia e a comédia. Escolhi falar sobre essas modalidades pois a relação do teatro, cinema, literatura e afins com a psicologia é tão grande que não poderia deixar de dedicar um texto para o assunto.
Como já mencionado, a tragédia e a comédia são modalidades do teatro grego, esse por sua vez tem origem nas festas para o deus Dionísio em Atenas por volta de 550 a.c. Mesmo sendo datadas há tanto tempo, essas duas modalidades de teatro influenciam até hoje a literatura, o cinema e por incrível que pareça, a psicanálise. Sim, foi uma tragédia grega que influenciou Freud a elaborar uma de suas principais teorias, o complexo de Édipo – para quem não sabe, a tragédia se chama “Édipo Rei” e seu autor é Sófocles.
Bom, mas o que é comédia e o que é tragédia? Sei da complexidade da resposta para essa pergunta, até o filósofo Aristóteles já se preocupou com o tema. No entanto, para nós leigos podemos entender a tragédia como uma forma de estória dramática, com a finalidade de causar terror, espanto ou piedade do espectador sobre o destino do protagonista. A comédia, por sua vez, busca excitar o riso no espectador, faz isso através de situações cômicas e jocosas. Ou seja, tragédia e comédia buscam sentimentos distintos no espectador, a grosso modo podemos até pensar em sentimentos opostos.
Mas será que os sentimentos propiciados pela tragédia e pela comédia são realmente opostos? A tragédia e a comédia à primeira vista são coisas tão distintas, mas será que são realmente diferentes? Essas são duas reflexões importantes e sobre elas o texto de hoje se pautará.
Já de antemão pretendo afirmar, comédia e tragédia não são opostas, pelo contrário, elas têm a mesma origem, não só histórica (a Grécia antiga), mas a mesma origem no humano, o nosso inconsciente. Comédia e tragédia possuem mais semelhanças que diferenças, para exemplificar isso vou lançar mão de três obras: “Romeu e Julieta”, “Um sonho de uma noite de verão”, ambas de Shakespeare e um filme do qual gosto muito: “Melinda e Melinda” do Woody Allen. Em relação as obras de Shakespeare, uma é trágica – Romeu e Julieta -, outra é cômica – Um sonho de uma noite de verão -, no entanto, um leitor atento pode perceber o fato de ambas narrarem estórias muito semelhantes, são pequenas coisas que vão contornando a estória para um fim trágico e na outra para um fim cômico.
Em relação ao filme “Melinda e Melinda”, por sua vez, ele é muito elucidativo para o que pretendo dizer, para quem ainda não viu, veja, é um filme muito bom. O filme começa com quatro escritores conversando sobre tragédia e comédia e dois deles se propõe, um a contar uma estória trágica e outro uma estória cômica, no entanto é a mesma a estória, de uma mulher chamada Melinda. Não vou contar o resto do filme, vou deixar para vocês verem, mas eu quero chamar a atenção para o fato da tragédia e da comédia em essência serem muito parecidas, o que muda é a maneira como percebemos os fatos em uma e de outra.
Esse é um dos pontos que essa discussão nos trás: como percebemos os fatos em nossas vidas? podemos percebe-los como trágicos ou como cômicos. Não acredito haver uma maneira melhor ou pior de enxergar o mundo, mas há momentos para se ter uma reflexão mais profunda de determinadas situações, assim como a tragédia nos propicia, e outros de se enxergar o mundo de maneira mais cômica, subvertendo a situação aparentemente trágica em algo mais palatável, como naquela famosa frase de fazer uma limonada dos limões que a vida te dá – não gosto de frases prontas, mas aqui ela coube bem.